Eu estava sentada, olhando as folhas mortas de outono que caiam lentamente, mediante ao vento forte. Eram suaves e grotescas, que pousavam lentamente sobre o chão. Algumas, porém, voavam tempo a fora - Pareciam que não queriam estar mais ali, paradas e imoveis no mesmo lugar. Queriam voar, descobrir novos destinos, ter mistérios para desvendar, lugares para explorar e uma vez, apenas uma vez, sentir-se livres.
Estava tarde, o pôr-do-sol já havia se formado. Tão lindo e vivo que me fizera por um instante se sentir da mesma forma. Seu brilho forte e voraz me deixava fascinada, poderia eu passar horas e horas contemplando esta magnífica paisagem que me rodeava, mas como tudo, eis que chegava ao fim. E de novo eu estava ali, dentro da mais tenebrosa escuridão, que libertava das jaulas cravejadas por espinhos sangrentos os meus medos incessantes. A angustia me dominava e o frio assolava a minha pele, penetrando nos meus ossos. Queria fugir, mas não havia lugar para me esconder, uma vez que, tal tenebrosa escuridão devora lentamente a minha mente. Já não havia mais como escapar e eu tinha que suportar e mais uma vez sorrir como se nada tivesse acontecido, mas era apenas um sorriso falso e eu tinha que guardar toda aquela tortura apenas para mim, já que ninguém se importava, já que eu era apenas uma escória no mundo que não merecia redenção, muito menos ser amada. E assim eu vivia meus dias, triste pelos cantos, com a alma ferida, solitária, sem ninguém, absolutamente ninguém. Carregava um passado que não era nada diferente do meu presente e provavelmente não seria diferente ao meu futuro e isso me obscurecia, me deixava com vontade de interromper a vida ali, afinal a morte não poderia ser pior que a vida. Poderia?
Mas não me importava com isso, tudo que pudesse acabar com a dor seria melhor do que esta ali, sentindo tudo aquilo, sofrendo e sofrendo sem um fim para tal sofrimento.
Respirei fundo e me levantei, o pôr-do-sol já havia adormecido, e as folhas pararam de cair quando a árvore que as hospedava finalmente morreu. Só ficaram ali seus restos mortais, esperando ser putrefato e sucumbido como todo o ciclo de uma vida, onde se nasce, cresce e finalmente morre. Cada qual tem o seu tempo para morrer, mas seria errado antecipar esse tempo? Quem se importa? Para todos sou apenas um erro, então não seria errado corrigir um erro. Sempre atrapalhando outras vidas, que consideravam errado até o ar que eu respiro, o lugar em que toco, as palavras ao qual pronuncio, a minha existência em si.
A noite agora me sondava, vigiando-me enquanto eu a vigiava. Buscando uma brecha para me fazer parte dela, olhava-me com seus olhos de escuridão, calculava cada passo que eu dava, esperando que este fosse o último, acusando-me de encará-la. Já não estava mais querendo a minha presença perante ela. Poderia eu chorar? Nem a noite... Ahh, a magnífica noite me queria, e a morte? Será que esta não iria querer-me também? Deixaria ela este fardo para a vida carregar sozinha? Será que a vida aceitaria? Ou apenas seria obrigada á isso?
Minha mente cruel que não perde tempo para me torturar e me fazer sofrer... Ingrata mente, eu que sou a única que tento fazer de tudo para que você sempre fique bem, e o que apenas ganho em troca è dor e sofrimento, que ousa incomodar meus olhos com lágrimas e mais lágrimas... Meu coração que já cansara de ser apenas partido, desejara parar de bater. Já não queria mais estar comigo, me acusara de ser a sua grande desgraça. A minha pele estava horrorizada a mim, sempre chorava e me perguntava que mal ela havia me feito para eu apenas machuca-la, tantos cortes, tantas cicatrizes a deprimia e isso se transformava em ódio, um imenso ódio de mim. Meu sangue apenas gostava quando era finalmente libertado desta horrenda prisão que era o meu corpo.
Nada mais importava! Fecho os meus olhos e durmo. As vezes o sono fugia de mim, outras vezes ele apenas me tortura com seus pesadelos. Mas desta vez, eu não me importo, quero apenas me desligar desta terrível realidade mesmo que a ilusão seja cruelmente pior...
Nenhum comentário:
Postar um comentário